quarta-feira, 22 de julho de 2009

Boi-de-Mamão


Por: Israel Silvy

A gente cresce, mais sempre tem aquelas lembranças felizes de fatos marcantes da época em que éramos pequenos. A que sempre me martelou a cabeça foi uma apresentação do Boi de Mamão. O vaqueiro laçando o boi, as maricótas dançando e fazendo todos se esquivarem de seus longos braços, os macacos, as cabrinhas, ursos branco e Preto e claro não poderia deixar de citar a Bernúncia. Muitos dizem que ela é a representação do “Bicho papão”. Se é não sei, só sei que ela me dava um medo danado, assim como hoje deixa as criancinhas tremendo de medo. Bom o tempo passou, e eu nunca mais tinha visto um grupo de boi se apresentado até que por acaso numa inauguração de uma loja, lá estava o Boi dançando. Parei na hora pra ver muito feliz principalmente porque minha filha estava junto comigo, podendo ver e sentir de perto a manifestação da cultura da nossa terra. O grupo era o “Alevanta meu boi” do Ingleses. Conversando com eles, constatei a triste noticia de que hoje contamos com pouquíssimos grupos de Boi de Mamão. Depois disso já levei crianças para assistirem suas apresentações 3 vezes e os trouxe na minha comunidade para fazerem uma apresentação também. Pretendo sempre que possível estar levando as crianças da minha família para ver as apresentações, porque sei da importância da cultura no desenvolvimento social de cada um de nós e também da importância da preservação da cultura local.
Deixo aqui um apelo a todos que lutem para preservar nossa cultura, não deixando morrer o que é nosso e nem deixando ser trocado por uma cultura alheia as nossas origens.
Deixarei abaixo links para que todos possam ficar por dentro do que é o Boi de Mamão:
Grupo Alevanta meu Boi, reportagem sobre o Boi de mamão:
Para o meu orgulho acabei por descobrir um link das músicas do grupo “Alivanta meu Boi” feito com fotos justamente da vez em que eu os levei na minha comunidade. www.youtube.com/watch?v=P16_v54vd3k&feature=related
Para conhecer o Boi de Mamão: http://www.manezinhodailha.com.br/subweb_portalboidemamao.htm

terça-feira, 21 de julho de 2009

SC recebe prêmio pelo uso inovador de Tecnologia da Informação


Por: AFC Custódio

"O governador Luiz Henrique recebeu nesta quinta-feira (25/06), das mãos do coordenador do Consult, Hugo Hoeschl, e do presidente do Ciasc, Dijalma de Amorim, o prêmio de Estado Inovador no uso de Tecnologias da Informação e Comunicação em Governo Eletrônico (e-Gov) para gestão e transparência pública. O prêmio foi entregue aos representantes do Governo neste mês, durante o 15º Congresso de Inovação e Informática na Gestão Pública – Conip 2009, em São Paulo. A placa de premiação,
que veio inserida a frase “Ao governo do estado de Santa Catarina em
reconhecimento a excelência demonstrada em suas iniciativas de inovação
na gestão pública e desenvolvimento do segmento de Tecnologia da
Informação”, emocionou o governador. “Fico muito feliz em ver que o
nosso esforço em desenvolver a gestão tecnológica do Estado está sendo
reconhecido em nível nacional”, disseLuiz Henrique.

O coordenador do Conselho Consultivo Superior do Governo do Estado (Consult), Hugo Cesar Hoeschl, afirmou que o fato de ser um prêmio de natureza tecnológica reforça ainda mais a excelência de Santa Catarina. Segundo ele, o governador Luiz Henrique sempre foi um entusiasta do uso de novas tecnologias, e esse prêmio
promove ainda mais ânimo no Estado para continuar investindo em
tecnologias de ponta, ocasionando a aproximação constante entre o
Governo e o cidadão. Para o presidente do Centro de Informática e
Automação do Estado de Santa Catarina (Ciasc), Dijalma de Amorim, este é um reconhecimento de uma gestão produtiva da utilização do e-Gov no Governo de Santa Catarina. Também esteve presente no ato de entrega o secretário de Estado da Coordenação e Articulação, Valdir Cobalchini.

Maior evento de e-Gov da América Latina
O Conip é o principal fórum da América Latina de discussão e apresentação das
tendências e das mais importantes iniciativas de modernização do
serviço público nacional einternacional, com uso da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). As melhores práticas já implementadas ou por implementar são
apresentadas anualmente ao mercado pelas principais autoridades deTIC da administração pública e as maiores empresas produtoras de tecnologia."

Fonte: Secretaria de Estado de Comunicação



Visão do Blogger: Enfim algum reconhecimento pelo trabalho no Estado e colaboração de Santa Catharina no polo tecnologico do país, muito trabalho nosso e a falta de reconhecimento e investimentos do governo federal nos faz questionar o atual sistema FEDERALISTA, o que ele seria e será que esta sendo aplicado de maneira correta? Lembrando que a urna eletronica atual orgulho do país e exemplo a nível mundial, nos fez ser o primeiro país a eleger um presidente por um equipamento eletronico, mas esquecem de citar que o primeiro uso deste equipamento fora em Santa Catharina e o seu desenvolvimento tambem, nós fazemos, eles ficam com os creditos, abra o olho governador, muitos talentos estao sendo perdidos por falta de investimentos para os grandes polos como Sao Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e cia. Peça aquilo que é de nosso direito diante Brasília, nós estamos pagando para eles contratarem nossos talentos.

Hino de Santa Catharina


Por: AFC Custódio

Letra: Horácio Nunes
Música: José Brazilício de Souza

Sagremos num hino de estrelas e flores
Num canto sublime de glórias e luz,
As festas que os livres frementes de ardores,
Celebram nas terras gigantes da cruz.
Quebram-se férreas cadeias,
Rojam algemas no chão;
Do povo nas epopéias
Fulge a luz da redenção.

No céu peregrino da Pátria gigante
Que é berço de glórias e berço de heróis
Levanta-se em ondas de luz deslumbrante,
O sol, Liberdade cercada de sóis.
Pela força do Direito
Pela força da razão,
Cai por terra o preconceito
Levanta-se uma Nação.

Não mais diferenças de sangues e raças
Não mais regalias sem termos fatais,
A força está toda do povo nas massas,
Irmãos somos todos e todos iguais.
Da liberdade adorada.
No deslumbrante clarão
Banha o povo a fronte ousada
E avigora o coração.

O povo que é grande mas não vingativo
Que nunca a justiça e o Direito calou,
Com flores e festas deu vida ao cativo,
Com festas e flores o trono esmagou.
Quebrou-se a algema do escravo
E nesta grande Nação
É cada homem um bravo
Cada bravo um cidadão.

link: www.tce.sc.gov.br/files/file/coral/ma_sicas/15_faixa_15.wma

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Encantos da Serra Barriga-Verde


Por: AFC Custódio

Conhecida até há bem pouco tempo como Planalto Serrano, a região adotou o nome de Serra Catarinense para melhor identificar o conjunto de municípios como roteiro turístico. Lages, Bom Jardim da Serra, Bom Retiro, Rio Rufino, São Joaquim, Urubici e Urupema são as sete cidades que integram a região, localizada no sudoeste de Santa Catarina, no ponto mais alto do estado. Nesses municípios, a temperatura pode chegar no inverno a 5 graus negativos com facilidade – em Urubici, os termômetros já marcaram 27 graus abaixo de zero recorde atual no territorio nacional. Os lagos e as nascentes costumam congelar no inverno. As araucárias predominam na paisagem com florestas magestosas, florestas tambem de pinheiros, passaros tipicos da regiao como a Gralha-Azul, assim como campos verdes, cânions e cascatas que servem de cenário para um mate e um costelaço com os amigos e tambem um vinho a dois.

Temos a Serra do Rio do Rastro posso dizer que visitar a Serra Catarinense e não conhecer esse "perau" ( termo sulino para abismos) é um pecado, oferecendo um orgasmo visual liga o litoral ao planalto de Santa Catarina. É uma estrada de 15 KM que sobe 1460 metros, por isso é tão sinuosa, cheia de curvas bem fechadas! É emocionante o trajeto atualmente com iluminação noturna o torna ainda mais lindo visto do panorama no fim de sua subida, mesmo no verão as chances de nao enchergar um palmo a frente existem devido aos frequentes nevoeiros na região.

Com tudo isso Santa Catarina oferece um roteiro totalmente original em nossa serra, sem cópias ou tentando ser o que nao somos como Gramado-RS onde atualmente é o principal ponto turistico no sul quando o tema é serra no sul, porém nao desfruta de uma identidade propria, uma cidade de colonização portuguesa e arquitetura Alemã, totalmente "fake". Com tudo isso mostro somente um rascunho daquilo que faz de Santa e Bela Catharina o estado mais completo, com belas praias, culturas europeias ao norte do estado, Gauchas a oeste e um litoral Açoriano e é claro um povo que ama aquilo que é so seu.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

As bruxas roubam a lança baleeira de um pescador da ilha


Por: AFC Custódio

"Contou-me um narrador de estórias de assombração que, na Costa da Lagoa da Conceição da Ilha de Santa Catarina, em anos que já vão longe de nós, morou um pescador que possuía várias embarcações para os serviços de pesca, entre as quais, também uma lancha baleeira.
Balduíno da Prudência era o nome do pescador. Ele era um homem muito trabalhador e cuidadoso. Tratava com carinho suas embarcações e equipamentos de pesca, e mantinha o rancho onde guardava sempre fechado à chave.
Na manhã de uma sexta-feira, quando ele, acompanhado pelos seus camaradas, dirigindo-se para o rancho a fim de retirar as embarcações para ir à pescaria, encontrou a lancha molhada e com muita areia de praia espalhada sobre o fundo, o que causou grande surpresa a toda a tripulação, pois a haviam deixado enxuta e limpa, na véspera, ao recolherem-na para o interior do rancho.
Comentando e analisando o fato, eles chegaram à conclusão de que a maré daquela noite havia sido alta e, pela razão citada, não podiam encontrar nenhuma pegada na praia e, portanto, não havia vestígio para afirmarem que alguém havia retirado a lancha do rancho, mesmo porque as portas estavam fechadas à chave e, as quais encontravam-se em poder de seu dono. Por via das dúvidas, daquele dia em diante, o pescador passou a observar com muita atenção o estado da embarcação nas manhãs de sextas-feiras. Obteve resposta para seu matutamento e desconfiança, quando, na manhã, ao abrir o rancho para vistoriar sua embarcação, encontrou-a molhada e muito suja de areia.
Sabedor que era de que, naquele ano e naquele lugar, Lagoa da Conceição, as endiabradas e perigosas mulheres bruxas vinham desenvolvendo grandes atividades diabólicas contra as inocentes criancinhas da comunidade, chupando-lhes o sangue até dá-las à sepultura, zombando sarcasticamente das fortes rezas e bem urdidas armadilhas que se lhes preparavam. Toda a tripulação foi unânime em concordar com a desconfiança do velho pescador: aquele serviço só podia ser obra das temíveis mulheres bruxas.
Homem intrépido que era, acostumado a enfrentar fortes tempestades, frio, fome, sede e outras sensações diversas diariamente em sua árdua profissão de pescador artesanal, não titubeou em enfrentar mais um estranho caso que o destino lhe colocou frente a frente, como um desafio à sua coragem de indomável homem do mar. Sempre respeitou as coisas do outro mundo, nunca lhas tocou nem de leve com escárnio ou zombaria e, também, nunca duvidou da sua existência e atividades aqui neste mundo de sofrimentos e tributações várias.
Matutando, certo dia, ocorreu-lhe uma idéia de traçar um plano bem urdido para poder certificar-se verdadeiramente, se, de fato, eram as terríveis mulheres bruxas as autoras responsáveis por aqueles embustes que tanto o preocupavam. Traçou um plano tecnicamente muito louvável, que foi o seguinte: colocou uma taramela na porta da gaiuta da lancha, pela parte de dentro e, ao entardecer de uma sexta-feira, meteu-se dentro dela, fechou a porta por dentro com a taramela e aguardou o resultado dos acontecimentos.
Não tardou, havia passado alguns minutos, ele ouviu vozes estranhas de mulheres dentro do rancho e viu quando a porta foi aberta e a sua lancha arrastada para o mar, sobre as estivas que ele usava. Na porta da gaiuta ele havia feito um pequeno furo, de onde espiou e viu um, quadro horrível e descomunal. Nunca imaginado por ele, nem por nenhuma criatura humana. Viu, dentro de sua lancha, uma caterva de mulheres nuas de fisionomias horrendas, corpo disformes e esqueléticos, mãos com unhas pontiagudas, enfim, um quadro dantesco, sinistro e demoníaco.
A mulher bruxa que ocupou o lugar de patrão sobre o castelo de popa da lancha apresentava o corpo coberto de escamas negras e eriçadas, as unhas das mãos e dos pés eram feitas lanças e espadas. Os cabelos eram muito compridos e caíam pela popa da lancha espalhando-se sobre o mar, deixando no seu rastro um fogo de ardentia, de comprimento incalculável. Dos olhos, chamejavam dois fachos de luz que clareavam a frente da embarcação 8 grande distância. Cada banco da lancha estava ocupado por um monstro bruxólico que manejava o remo de voga. Quando iniciaram a viagem mar adentro, a misteriosa e agressiva bruxa-velha-chefe. que estava comandando a lancha, soltava gritos lancinantes enfurecidos. Esbravejava, pronunciando palavras de alerta às suas comandadas de que, dentro da embarcação, havia presença de um corpo humano, em estado natural:
- Aqui nesta embarcação está cheirando a sangue real!
A bruxa que estava sentada no banco da popa da lancha junto da gaiuta onde o pescador estava escondido, era comadre e prima dele. Ela sabia da presença dele ali, através do faro fadórico sobrenatural. Para protegê-la, todas as vezes que a temível bruxa-patrão esbravejava "está cheirando a sangue real nesta embarcação," ela respondia com todo vigor bruxólico para as suas colegas de sina demoníaca:
- Remem, suas éguas, e que cada remada avance uma légua, pois o galo branco já cantou e o amarelo já cacarejou.
Esta advertência para as colegas significava que deviam se esforçar para chegar ao lugar de destino e retornar sem serem molestadas pelo canto do galo preto, que significava, para a sina delas, o desencanto total. E assim, vencendo léguas por segundo em cada remada que davam, aportaram no lugar que haviam escolhido para levarem a cabo as suas sinistras diabruras e, dentro de pouco tempo, retornarem à lancha e viajarem em direção ao porto de saída. Assim, cumprindo à risca os projetos em questão, arquitetados, e muito bem arquitetados, porque os planos bruxólicos são autênticos, ao chegarem na praia desembarcaram, puxaram a lancha até meia maré e desapareceram.
O pescador, de dentro de seu esconderijo, observava com toda atenção e cuidado os movimentos delas, porém não conhecia os seus linguajares. verificando que estava livre de qualquer cilada por parte delas, abriu a porta da gaiuta, saltou de dentro da lancha, pôs olho de observação em volta do local e, com muita cautela, colocou um punhado de areia daquela praia dentro do bolso, colheu um ramo de rosas de um jardim de uma casa próxima dali e, rapidamente, recolheu-se ao seu esconderijo. Nem era passada uma fração de segundos, as endiabradas se apossaram novamente da lancha, ocupando seus devidos lugares e a soltaram mar afora.
Durante toda a viagem de ida e volta, a bruxa-patrão advertia, insistentemente, as suas comandadas, de que ela tinha plena certeza bruxólica de que, dentro daquela embarcação, havia presença de sangue real. A comadre do pescador, a bruxa que sabia da sua presença ali dentro da gaiuta, acompanhou a saída dele lá na praia onde desembarcaram e viu quando ele apanhou a areia e as flores. Durante toda a viagem de volta, quando a sua chefe esbravejava contra a presença de sangue real, ela a interrompia com muita segurança e habilidade: Remem, suas éguas, e que cada remada avance uma légua, pois os galos brancos e os amarelos já cantaram e os pretos já miúdaram.
E assim, com esses argumentos, ela defendeu o seu compadre e parente das unhas daquelas terríveis mulheres bruxas, mesmo porque também não podiam perder tempo à procura do sangue do pescador que se achava dentro da gaiuta. Ela sabia tão bem quanto todas as lições bruxólicas que haviam aprendido, quando calouras, de que, se fossem colhidas em estado fadórico pelo canto do galo preto, se desencantariam dentro da lancha, em pleno mar, e o pescador reconheceria todas quando apresentassem a sua nudez humana. E continuaram a viagem esbravejando, remando, desafiando a velocidade do tempo, até que chegaram ao porto de partida na Ilha de Santa Catarina, na Lagoa da Conceição.
Desembarcaram, abriram o rancho, recolheram a lancha dentro dele e desapareceram, num pealo, dos olhos do pescador.
O pescador, logo que se viu livre delas, apanhou a areia e as rosas que recolheu no porto onde elas o levaram e retirou-se para sua casa. No dia seguinte, ele tomou a areia e as rosas e passou a mostrá-la a toda gente da comunidade, na intenção de que alguém adivinhasse ou acertasse a procedência delas ou sua terra de origem. Não encontrou pessoa alguma que conseguisse dar uma opinião aproximada, pois nem ele mesmo era capaz de calcular onde esteve, levado por elas.
Certo dia, quando ele menos esperava, a bruxa, sua comadre apareceu em casa dele para visitar o afilhado. Ela mantinha uma amizade muito forte e íntima com uma de sua filhas, a Gracinda, que era uma moça casadoira e muito religiosa. Conversa vai e conversa vem, ele chegou até a comentar com ela o fato desagradável que com ele acontecera e que muito o impressionara.
- Comadre, eu estive num lugar muito longe, dentro da noite, e, às apalpadelas, dentro da escuridão, consegui recolher um punhado de areia e umas rosas, porém desconheço o lugar de sua origem. Já as mostrei a muita gente e ninguém, assim como eu mesmo, conseguiu identificá-las. - Quando ela colocou os olhos por riba da areia e das rosas, suas faces enrubesceram, seus olhos se esgazearam e sua fala emudeceu. Recuperando-se, ela afirmou - Compadre, a terra de origem deste punhado de areia e deste ramalhete de rosas é a Índia. Eu aprendi na minha escola de iniciação à bruxaria que lá, nos Açores, na terra dos nossos antepassados, as bruxas também costumavam roubar embarcações e fazerem estas viagens extraordinárias entre as ilhas e a Índia, em escassos minutos marcados pelos relógios do tempo. Também aqui as mulheres continuadoras dos elementos diabólicos do reino de Satanás, cujas chefes enfeixam em suas mãos os poderes emanados Dele, praticam as mesmas peripécias. Eu, compadre, afirmo-lhe com convicção certa de que as suas vidas, naqueles momentos, estiveram guardadas no repositório das minhas mãos. A bruxa-chefe, que comandava a embarcação, tinha plena certeza da presença real de sangue humano dentro da lancha e, de vez em quando, ela chamava a atenção de suas comandadas para que investigassem onde estava o elemento que o possuía. Mas eu procurei sempre com muita altivez e precisão bruxólica, atraí-las para pontos distantes que podiam atrapalhar nossa viagem, quais eram os cantares dos galos. Hoje o senhor vai saber com precisão que, dentro da sua embarcação, fazendo aquela viagem bruxólica entre.a Ilha de Santa Catarina e a Índia, estavam as mulheres bruxas mais respeitáveis, misteriosas, prepotentes e malignas que vivem o reino rubro do rei Anjo Lúcifer. Se o senhor não foi trucidado por elas, agradeça à minha presença na sua lancha, metamorfoseada em bruxa, sentada no banco de popa na frente da gaiuta, onde se achava escondido.
Ela declarou-se bruxa para o compadre e acusou-se de estar chupando o sangue do filho dele, seu próprio afilhado de batismo, e denunciou todas as demais, inclusive a chefe do bando que encetara aquela viagem.
O velho pescador ficou atarantado e, num repente, correu até a cozinha, apanhou um rabo de tatu que estava no fumeiro, aplicou-lhe uma boa surra de repreensão por riba do corpo e salgou as feridas do desencanto com sal e pimenta, do desespero que ele via no amargar do empresamento do seu filhinho.
Muitas. vezes - pensou consigo mesmo o audaz pescador - escutei conversas em ajuntamento de pessoas, no inverno, aquecendo-se ao pé do fogo de fogão de trempo de ferro, em cozinhas de assoalho de chão batido, de que as mulheres bruxas açorianas eram temidas pelo povo das ilhas, devido às práticas de suas más-artes.
"Depois da tremenda refrega demoníaca que ganhei, sem atinar porque carga de pecado cometido, de uma coisa tenho plena certeza: quem me defendeu das unhas carniceiras daquelas megeras éguas bruxas foi o meu breve milagroso, que carrego sobre o peito, desde o tempo da minha bisavó Lucreça, que era uma exímia benzedeira curandeira e que fez parte das levas de colonos que viajaram amontoados dentro de porões fétidos de barcos veleiros, na santa esperança de se radicarem aqui nesta Ilha de Santa Catarina e viverem melhores dias na santa paz do senhor, já que a sua terra natal só podia oferecer-lhes misérias econômicas, minguadas e escassas." Franklin Cascaes